medo.

Medo, um sentimento inconstante; travesso e estranho.
É o eterno companheiro de quem dele padece, tendo até já assegurado a todas as suas vítimas, por diversas vezes, que é imortal e indomável.
Oriundo das profundezas dos nossos mais tenebrosos pesadelos, ele chega até nós com toda a sua graça e plenitude, pronto a emaranhar-nos nas suas redes cortantes e esguias.
Sucumbe-nos ao receio, impedindo que concretizemos muitos dos nossos sonhos ou quereres. Irradia dúvida e insegurança por todo o nosso corpo, fazendo-nos desistir, uma vez mais, do que tentamos há tanto tempo levar avante.
Desgasta as nossas forças; esmorece as nossas certezas; espicaça e destrói os nossos sonhos. Leva-nos de encontro à infelicidade, impelindo com veemência tudo o que nos possa aflorar um sorriso.
Está presente em cada ser humano, mesmo que muitos não o admitam. Em alguns, com mais garra e afinco; noutros, mais ténue mas nunca extinto.
Poucos são aqueles que se podem considerar verdadeiramente afortunados e livres dele, e ainda hoje residem sérias dúvidas se isso é realmente possível.
Podemos tentar, ou até mesmo conseguir, perder o medo de alguma coisa, mas um outro medo por outra qualquer – distinta ou semelhante – há-de certamente aparecer.
O medo retrai-nos; ele consome-nos, ainda que de maneira imperceptível. É o culpado de tanto e injustamente acusado de tão pouco.
Sentimento abominado por muitos, mas indiferente a todos os protestos feitos contra si. É infindo, por vezes letal, e só temos que aprender, de uma vez por todas, a conviver com ele.